A diretora Naomi Kawase (1969-) foi adotada ainda criança por um casal de tios-avós da família de sua mãe e teve pouco contato com seus pais biológicos até sua vida adulta. Em seu primeiro filme de 1992, Kawase realiza um percurso quase investigativo na busca de seu pai biológico. Ela visita todos os endereços registrados em que seu pai morou, desde o nascimento dela, com a finalidade de estabelecer o seu primeiro contato com ele. Nesse documentário, a diretora utiliza uma câmera 8mm para lidar com sua própria miscelânea de sentimentos.
Fotografias de sua primeira infância levadas aos locais em que foram tiradas somadas a fotografias da diretora já adulta nos subsequentes endereços do pai formam uma complexa rede de memórias. Em uma entrevista recente, a diretora afirma que o cinema foi um modo de entrar em contato com sentimentos que poderiam ter ficado aprisionados dentro dela.
A temática da família e da maternidade é frequente na carreira da diretora, tanto na ficção quanto em seus documentários. Suas próprias questões em relação à família adotiva provavelmente influenciaram a escolha de seu último projeto. Mães de verdade trata de um casal que adota uma criança por conta da impossibilidade da concepção. Seis anos depois, eles recebem uma ligação da mãe biológica que demanda a guarda da criança de volta. O filme deve tratar também do processo de adoção no Japão e do tema da gravidez na adolescência.
O título internacional do filme (True mothers), que serviu de base para o nome em português, enfatiza a questão da maternidade. Mas em japonês, o filme leva o nome do romance de Mizuki Tsujimura (1980-) no qual foi baseado: Asa ga kuru, que pode ser traduzido como “a manhã vem”.
O filme teria tido sua estreia mundial no Festival de Cannes deste ano, porém com o evento cancelado por conta da pandemia do COVID-19, sua primeira exibição aconteceu em setembro, no Festival de Cinema de Toronto. No Brasil, o filme estreia no dia 12 de novembro e também marca presença na programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.