Mitate (見立 – “levantar-e-ver”) nomeia uma figura de linguagem que no Ocidente se traduz, dependendo do contexto, como comparação, justaposição, alusão, metáfora, metonímia, paródia. Compreende desde exemplos mais antigos preservados em coletâneas imperiais, de simples comparação (por exemplo: evanescentes flocos de neve a cair como delicadas pétalas de cerejeira) até complexas alusōes verbais, visuais ou verbo-visuais não raro cifradas para poucos eleitos. Uma característica fundamental é a atualização no tempo e espaço presentes através da substituição de personagens, lugares ou tramas teatrais flagradas em imagens que tendem a tornar refinado o que é vulgar, aludir politicamente ao presente através de cenários passados, mesclar o real e o imaginário, tornar visíveis quimeras de pensamento. Nessa chave retórica, podem-se ler as pedras do jardim zen do templo Ryōan-ji, localizado em Kyoto, como mitate de outras ilhas, outros mundos, templos como locais do Paraíso do Oeste, cortesãs como damas da corte de Heian, comerciantes como bravos heróis.
Referências:
CORDARO, Madalena Hashimoto. Mitate: a retórica japonesa da repetição renovada. Ars, São Paulo, ano 11, n. 21, p 41-61, 2013.
HAYAKAWA, Monta. The shunga of Suzuki Harunobu – mitate-e and sexuality in Edo. Tradução: Patricia J. Fister. Kyoto: Nichibunken, 2001.
YOSHIDA Mitsukuni. Nihon bi no kenkyû (“Pesquisas em estética japonesa”). Tokyo: Edições NHK, 1978.