Kazuhiro Soda - Zero (Seishin 0) (2020)

O diretor Kazuhiro Soda (1970 – ) realizou em 2008 o documentário Mental (Seishin) em que acompanha a rotina de uma clínica de pacientes psiquiátricos no Japão. Mas na época de sua filmagem, não dedicou tanta atenção aos atendimentos do Dr. Masatomo Yamamoto (1936 – ) que tratava os pacientes. A apreciação do método e da compaixão do médico com as pessoas só se deu durante a montagem do filme. Dez anos depois, Soda resolve realizar Zero (Seishin 0, 2020), especificamente sobre o Dr. Yamamoto, que aos 82 anos de idade está se aposentando da clínica médica. 

O diretor, que mora nos Estados Unidos, começou a trabalhar na televisão como correspondente internacional da NHK. Seu primeiro documentário a ganhar atenção foi Campaign (Senkyo, 2007), sobre a campanha eleitoral municipal do candidato Kazuhiko Yamauchi, que não possuía nenhuma experiência política anterior. O filme ganhou o Peabody Award em 2009 e foi adquirido posteriormente para a série de documentários POV da PBS (serviço de radiodifusão pública estadunidense).

O diretor Kazuhiro Soda. New York, NY – 68th Annual George Foster Peabody Awards at the Waldorf Astoria – PHOTO by: Alex Oliveira. Licenciado sob CC BY 2.0

Utilizando-se de seus “Dez mandamentos” de cinema observacional, Soda realiza documentários bastante sensíveis em relação a seus personagens e suas visões sobre a vida. A lista de mandamentos, similar ao manifesto dinamarquês Dogma 95, restringe principalmente o método de aproximação e filmagem de seus personagens e temas. 

“Dez mandamentos” de Kazuhiro Soda:

1. Sem pesquisa.

2. Sem encontros com as pessoas.

3. Sem roteiros.

4. Filmar com a câmera você mesmo.

5. Filmar pelo maior tempo possível.

6. Cobrir áreas pequenas profundamente.

7. Não definir um tema ou objetivo antes de editar.

8. Sem narração, sobreposição de títulos ou música.

9. Usar planos-sequências.

10. Pagar você mesmo pela produção.

O método que Soda define como “observacional” é bastante reminiscente da tradição de filmes etnográficos, assim como do cinema direto estadunidense e da tradição realista baziniana. Sem dúvida as regras são aparentes em seus filmes, que frequentemente demonstram-se abertos aos acasos da produção e à paciência em ouvir as pessoas com que o diretor cruza nas filmagens. Em seu site, Soda afirma que os mandamentos surgiram como uma forma de se contrapor aos métodos de realização televisivos, que exigiam roteiros prévios e uma suposição subjetiva sobre os temas por parte dos produtores.

Trailer de Zero (2020)

Zero, seu último documentário, também obedece aos limites definidos por seu método. O filme ganhou o prêmio do júri ecumênico no último Festival de Berlim e estreia no Brasil dentro do Festival Indie 2020 que acontecerá de forma online de 4 a 11 de novembro. Os filmes serão exibidos em horários definidos e a programação completa pode ser encontrada no site do festival

O festival conta com muitos outros filmes de cineastas renomados e sessões especiais. Dentre a programação estão mais sete filmes com produção asiática: 

  • Perfil de uma mulher (Yokogao, 2019, Japão e França) de Koji Fukada (1980 – ); 
  • Lost lotus (Weijian lianhua, 2019, Hong Kong e Países Baixos) de Liu Shu;
  • Uma nuvem no quarto dela (Ta fang jian li de yun, 2020, Hong Kong e China) de Zheng Lu Xinyuan; 
  • Love Poem (Qingshi, 2019, Hong Kong e China) de Wang Ziaozhen (1989 – );
  • Vapor (Vapour, 2015, Tailândia, Coreia do Sul e China) do tailandês Apichatpong Weerasethakul (1970 – );
  • Memórias do meu corpo (Kucumbu tubuh indahku, 2018, Indonésia) de Garin Nugroho (1961 – );
  • De volta para casa (Coming home again, 2019, EUA e Coreia do Sul) de Wayne Wang.
Perfil de uma mulher (2019) de Koji Fukada

  • O que: Festival Indie 2020
  • Onde: Online através do portal do festival (www.indiefestival.com.br/2020/)
  • Quando: De 4 a 11 de novembro, com sessões com horários definidos a partir das 15h
  • Valor do ingresso: Gratuito