Zuihitsu é uma forma literária em prosa, escrita por um único autor e caracterizada pela fragmentação. Os caracteres que formam a palavra zuihitsu, 随 “seguir” + 筆 “pincel”, mostram como é produzida essa forma: escreve-se pelo desejo do pincel, a ferramenta mais utilizada na escrita japonesa. Portanto, não há necessariamente um tema em comum, um enredo que costure a obra como um todo nem sequência cronológica. Os títulos dessas obras utilizam palavras mais genéricas, como 草 (“rascunhos”, sendo 草子 – sōshi – o termo que originalmente descrevia o papel em que foi escrito), a exemplo de O livro do travesseiro (枕草子, Makura no sōshi; 1002), de Sei Shōnagon (c. 966-1017), e Tsurezuregusa (徒然草, “Anotações no ócio”; 1330-1332), de Yoshida Kenkō (1283-1350); “escritos”, como em Hōjōki (方丈記  – “Relatos de minha cabana; 1212), de Kamo no Chōmei (1155-1216); ou mesmo indicando fisicamente o agrupamento, cujo exemplo maior é Tamagatsuma (玉勝間  – “Cesto de bambu precioso”; 1812), de Motoori Norinaga (1730-1801), em alusão ao local em que o autor supostamente guardava os textos assim que escritos. A palavra zuihitsu aparece pela primeira vez em um título somente no Tōsai zuihitsu (東斎随筆), de Ichijō Kanera (1402-1481), em 1481, posterior à escrita das três obras consideradas mais significativas do gênero (O livro do travesseiro, “Anotações no ócio” e “Relatos de minha cabana”).

Referências:

DECOKER, Gary. Secret teachings in medieval calligraphy: Jubokushō e Sayōshō [continued]. Monumenta Nipponica, v. 43, n. 3, pp. 197–228, 1988.

FUKUSHIRO, Luiz Fernando de Prince. Escritos sobre a estética além da arte: transmissão e experiência na cultura japonesa. Tese (doutorado)—Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 2020. 

KATO, Shuichi. Tempo e espaço na cultura japonesa. Tradução: Neide Nagae e Fernando Chamas. São Paulo: Estação Liberdade, 2012.

KAWAI, Karen Mie. Conceituação do gênero zuihitsu: análise comparativa de textos de Makura no sôshi e Tsurezuregusa. Dissertação (mestrado)—Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.