Grafado com os ideogramas bu (舞 – wu/mai – dança) e tō (踏 – ta – pisar) é uma manifestação artística que se desenvolveu no Japão a partir do encontro de diversos artistas, como Kazuo Ohno (1906-2010) e Yoshito Ohno (1938-2020), com Tatsumi Hijikata (1928-1986), considerado o fundador desta arte performática.
O espetáculo Kinjiki (Cores Proibidas), de maio de 1959, inspirado no romance homônimo de Yukio Mishima (1925-1970), é considerado a primeira obra de butō, realizada por Hijikata e Yoshito Ohno.
O desenvolvimento do butō se deu nas décadas de 1960 e 1970 e sua internacionalização aconteceu a partir da apresentação da obra Admirando La Argentina, de 1977, no 140 Festival Internacional de Teatro de Nancy, na França, em 1980. Considerada a obra-prima de Kazuo Ohno, com direção de Hijikata, ela lançou o butō aos olhos do mundo, e foi apresentada no Brasil em 1986.
De definição complexa, muitas vezes contraditória, o butō não é uma técnica artística a serviço de uma expressão corporal. De acordo com o pesquisador Takashi Morishita o “butō não é a expressão de uma ideia que usa o corpo como ferramenta”, sendo o butō de Hijikata, por exemplo, “a arte do corpo cuja expressão é uma convulsão da existência”, ou como definiu Yoshito Ohno “a combinação de algo cuja essência não muda com algo cuja essência está em mutação”, ou a “prática de uma oração” compartilhada. Seguindo a indicação: “expressar sem querer se expressar”, sempre dada por Hijikata, os artistas da primeira geração trouxeram à cena a essência de suas existências. As singularidades de suas trajetórias, pessoais e artísticas, visíveis em suas danças por habitarem corpos distintos e com qualidades estéticas, muitas vezes antagônicas, têm como denominador comum as imagens poéticas e abstratas ao se referirem ao próprio trabalho ou à definição do que é o butō. Sendo assim, o butō é também a mãe de Kazuo Ohno, que por tantas vezes ele a dançou. Ou a irmã de Tatsumi Hijikata que habitava seu corpo, impulsionando sua dança. Ou a flor, oferecida por Yoshito Ohno, para que fosse sempre dançada.
Referências:
MORISHITA, Takeshi. Hijikata Tatsumi’s notational Butoh: an innovation method for Butoh creation. Tokyo: Keio University Art Center. 2015.
NPO DANCE ARCHIVE NETWORK. Something called Butoh. MIZOHATA, Toshio, MATSUOKA, Dai, KUREMIYA, Yurika, HONDA, Mai, ISHIYAMA, Seara (ed.). Tokyo: NPO Dance Archive Network. 2020.
OHNO, Kazuo OHNO, Yoshito. Kazuo Ohno’s world from without and within. Introduction by Toshio Mizohata: Translated by John Barrett. Middletown, Connecticut: Wesleyan University Press, 2004.
OHNO, Yoshito. Butoh: a way of life. Translated by John Barret. Shinagawa, Tokyo: Canta Co.Ltda, 2015.
YOKOYAMA, Ana Cristina. Hana to Tori: a trajetória expressivo-poética de Yoshito Ohno. 2019. 81 p. Dissertação (Mestrado em Cultura Japonesa). Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
YOMOTA, Inuhiko. Portrait of Ôno Yoshito. Translation of the John K. Gillespie. Tokyo: Canta Co. Ltd. 2017.