Enquanto o mundo aguarda o lançamento do filme oficial referente aos jogos olímpicos de Tokyo (realizados entre 23 de julho e 08 de agosto de 2021), dirigido pela cineasta Naomi Kawase (1969 -), o público paulistano poderá assistir o documentário que retrata a saga que levou a equipe japonesa de vôlei feminino à medalha de ouro nas olimpíadas de 1964 em Tokyo. Trata-se de “As bruxas do Oriente” (Les sorcières de l’Orient, 2021), filme dirigido por Julien Faraut (1978 – ) que, depois de ser apresentado na edição de 2021 do Festival de Roterdã e no IndieLisboa, chega a São Paulo no contexto da 45a Mostra Internacional de Cinema.
O título do filme remete ao nome pelo qual o time feminino de vôlei japonês ficou conhecido após ter vencido a equipe da União Soviética no Mundial de Vôlei de 1962 – equipe considerada imbatível na época. Até então, as japonesas eram conhecidas como “Tufão do Oriente” pois, assim como os tufões, dizia-se que perdiam a força ao atingir o território russo/soviético (no Mundial de Vôlei de 1960, no Rio de Janeiro, a equipe soviética venceu o time japonês). O filme de Julien Faraut aborda todos esses aspectos, traçando de uma maneira muito fluida e pertinente o paralelo entre a política de reconstrução econômica do país e o esforço daquelas que viriam a se tornar campeãs olímpicas.
A equipe japonesa começou em 1953 na região de Osaka, mais precisamente na fábrica têxtil Dai Nippon Spinning Co., Ltd., e era formada por operárias que tinham uma dupla jornada de trabalho: passavam as manhãs na linha de produção da fábrica e o restante do dia – e da noite – no ginásio, sob o comando do treinador Hirobumi Daimatsu (1921-1978). As Olimpíadas de 1964 foram uma espécie de vitrine na qual o Japão buscava mostrar ao mundo que as cicatrizes da guerra estavam curadas e que o país havia sido reconstruído e se encontrava em vias de se tornar uma potência mundial em harmonia com os valores democráticos.
Foi justamente nos Jogos Olímpicos de Tokyo que o voleibol tornou-se uma modalidade olímpica. A vitória da equipe comandada pelo Oni no Daimatsu (“demônio Daimatsu” – maneira como a imprensa da época referia-se ao técnico japonês em função do rigor imposto nos treinamentos) foi, portanto, o resultado de mais de uma década de trabalho árduo. Vale lembrar que as imagens desta vitória fazem parte do documentário Olimpíadas de Tóquio documentário realizado por Kon Ichikawa (1915-2008) e que tornou-se a grande referência cinematográfica acerca das Olimpíadas de 1964.
Apesar das imagens de época constituírem o eixo principal de “As bruxas do Oriente”, o grande êxito do filme consiste em não se limitar a documentar uma proeza esportiva. O diretor Julien Faraut foi ao encontro das campeãs olímpicas mais 50 anos depois da eletrizante vitória, permitindo ao espectador saber quais foram os desdobramentos da vida delas após os jogos olímpicos. Ele também promoveu o reencontro entre elas, criando uma narrativa muito consistente onde a performance esportiva extraordinária daquelas mulheres encontra-se de mãos dadas com a banalidade inerente à vida que seguiu seu curso uma vez que a chama olímpica foi apagada. Não apenas o tratamento visual dado ao filme, incluindo a inserção de animações gráficas, mas também a trilha sonora utilizada contribuem igualmente na construção de um documentário dinâmico, criativo e pertinente, fazendo de “As bruxas do Oriente” um filme cuja magia mostra-se atemporal.
O que: Filme “As bruxas do Oriente”, dirigido por Julien Faraut – parte da 45a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Onde: Espaço Itaú de Cinema, Reserva Cultural e ONLINE
Quando: 01 a 03 de novembro de 2021. Os ingressos podem ser adquiridos a partir de 30 de outubro aqui