Yūrei (幽霊 – fantasma japonês) é a palavra que dá nome ao espírito dos que morreram, mas continuam presos ao reino dos vivos, obstinados pela resolução de alguma pendência que não lhes permite partir em paz para o mundo dos mortos: um grande amor, uma vingança, um mal-entendido. O yūrei tem um propósito e, diferente da ideia geral de fantasma, está atrelado a séculos de cultura e tradição japonesas, aos rituais funerários, a regras que devem ser seguidas pelos vivos em relação aos mortos. 

A primeira representação pictórica de um yūrei coube ao artista Maruyama Ōkyo (1733 – 1795). Depois de vislumbrar o espectro de sua falecida amante Oyuki no meio de uma noite do ano de 1750, Ōkyo pintou seu retrato exatamente como ela lhe havia aparecido. Futuras representações de yūrei, inclusive em mídias atuais como o mangá, anime e filmes, apropriaram-se de elementos dessa imagem de Oyuki, como por exemplo seus cabelos desgrenhados e o kimono branco com o qual o Japão enterra seus mortos. 

Para além das artes e da literatura, os yūrei continuam integrando o cotidiano japonês contemporâneo em histórias de taxistas que alegam terem transportado fantasmas, em relatos de casos de possessão depois de mortes em catástrofes, e em cerimônias que atores do teatro kabuki executam para evitar azar, antes de encenarem peças em que figuram yūrei vingativos como Oiwa. Na peça originalmente escrita em 1825, Oiwa teria se tornado um espírito dessa ordem após ter tirado sua própria vida ao saber que o marido, Iemon, a envenenara, traíra e assassinara seu pai. No reino dos mortos, ela passa a ser um yūrei obstinado a assombrar Iemon, que acaba por enlouquecer.

Referências:

DAVISSON, Z. Yūrei, the japanese ghost. Seattle: Chin Music Press, 2015.

IWASAKA, M., & TOELKEN, B. (1994). Ghosts and the japanese: Cultural Experience in Japanese Death Legends. Logan: Utah State University Press, 1994.

PARRY, R.L. Os fantasmas do tsunami: os vivos e os mortos depois da tragédia de março de 2011. Piauí, São Paulo, edição 91, abril 2014.