Ma pode ser vazio, espaço intervalar ou espaço-tempo. “Pode ser”, porque é uma potência que, ao tornar-se existente, concretiza-se em múltiplas aparições. Difícil entender quando se tem uma visão racional dualista opositiva, mas possível se vista por uma perspectiva mais aberta, que compreende o conhecimento sensível, a ambivalência e a coexistência dos opostos no sistema cognitivo. Quando o ma se manifesta como espaço branco do papel é também chamado de yohaku (余白). Um espaço vazio que não é o do nada, mas da potencialidade do devir, ou ainda: em um quadro, onde o fundo se mostra tão essencial quanto à figura, desmontando a hierarquia figura-fundo. O biombo de Hasegawa Tōhaku (1539-1610) denominado Pine Trees (Pinheiros) (século XVI) exemplifica essa espacialidade ma. Um yohaku que permite uma participação comunicativa do espectador, convidando-o para colaborar com a sua imaginação. 

Referências:

OKANO, Michiko. Ma – a estética do entre. Revista USP, São Paulo, n. 100, p. 150-164, 18 fev.2014.

OKANO, Michiko. Ma, entre espaço da arte e comunicação do Japão. São Paulo: Annablume, 2012.

GIROUX, Sakae Murakami; FUJITA, Masakatsu; FERMAUD, Virginie (orgs.). Ma et aida: des possibilités de la pensée et de la culture japonaise. Arles: Philippe Picquier, 2014.

KOSHIMURA, Piti. 間 (Ma): o kanji que me faz valorizar as pausas e os vazios. In: Peach no Japão. 24. maio 2018.

DER HAROUTIOUNIAN, Cassiana. O tempo, a pausa e o silêncio – a expressão japonesa ‘Ma’ como uma potência do vazio, na obra de arte. Folha de S. Paulo, São Paulo, 22 abr. 2020. Entretempos.

Hasegawa Tōhaku, Pine Trees (松林図屏風)